quarta-feira, 18 de novembro de 2009

NÓS=EU...

Estava escutando, dias atrás, a entrevista de um jogador de futebol "famoso". Confesso que embora já devesse estar acostumada, fiquei impressionada com o que observei.
Durante toda entrevista, o jogador em questão, colocava-se sempre na primeira pessoa do plural (NÓS), ou então referia-se a si como "A GENTE".
Nesta hora, percebi-me estabelecendo uma "curiosa" relação entre professores e jogadores de futebol.
Enquanto muitos de nós trabalham 60 horas para poderem ter seu carro popular (claro que não falo de um carro zero km), ou sobreviverem durante o mês, a "estafante" jornada diária de um jogador de futebol resume-se a, no máximo, 8 horas por dia e rende-lhes, se quiserem, um carro importado de luxo, a cada semana.
Mesmo que um professor trabalhe um ano inteiro, três turnos por dia, não conseguirá alcançar a metade de um salário mensal de um jogador de futebol, mas nós professores, não somos responsáveis pela "alegria do povo".
Vi muita gente chorando por seu time, por jogador que chega ou que vai, por um gol feito ou sofrido, mas confesso que nunca vi pais chorarem pela desatenção com seus filhos, pelo descaso com a escola, por uma aprendizagem ocorrida, nem pela emoção de ver seu filho querer aprender. O que dirá por ver um professor esforçar-se para trabalhar doente, sem material, correndo riscos...
O jogador de futebol quando sente-se ameaçado, contrata seguranças e o seu clube reforça-a para garantir sua integridade. O professor quando é ameaçado, ou perde sua vida ou tem que trocar de escola, de casa ou até de cidade.
Fiquei pensando nisto enquanto olhava a entrevista ir acabando e fiquei pensando o quanto buscamos melhorar, crescer, estudar mais, aperfeiçoarmo-nos.
Sabe qual foi a minha única tristeza ao olhar este panorama? A grande e violenta distorção de valores, onde quem proporciona a "alegria do povo" tem reconhecimento(de todos os tipos) garantido e quem garante a educação para o povo, quase mendiga melhores condições e já desistiu do reconhecimento à muito tempo.
Este é o Brasil das grandes desigualdades sociais, mas principalmente das desigualdades morais...Onde o jogador de futebol, constrói seu ego a ponto de tornar-se plural e os professores sonham com o tempo que não volta mais, onde poderiam ter sido simplesmente jogadores...

Um comentário:

Simone disse...

Olá Carla!
Acredito que muitos já tenham se questionado sobre essa desigualdade, assim como tantas outras que vemos por aí. Os motivos disso rendem boas discussões. Pensaste sobre alguns?
Os professores em nosso país realmente não são muito valorizados, mas quem não lembra com carinho de algum (ns) professor (es) que marcou de forma positiva sua vida? Se não fossem os professores, não teríamos tantos médicos, dentistas, psicólogos, enfim, tantos profissionais formados e atuando no mercado.
Um abraço, Simone - Tutora sede